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de Federico Fellini

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quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

o mundo de Amélie Poulain

“Siga as setas amarelas senhor Quincampoix”
* todos os textos em branco são originais do filme

No filme, ele seguiu e mudou seu destino.
Siga o seu, mude sua vida, vendo “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”.
Um filme fabuloso, como o nome já diz. Uma fábula, um sonho, uma inspiração.
Amélie leva até as telas imagens maravilhosas de uma direção de arte e fotografia impecáveis — além de todo o filme também — de cores surpreendentes, iluminadas, inspiradas na obra de um pintor brasileiro, Juarez Machado, Amélie tem sua linguagem cromática composta, basicamente, por três cores: muito verde e vermelho e pontuações em azul. Apesar se ser baseado em Juarez Machado, não dá para esquecer a famosa frase de Van Gogh sobre estas cores: “desejo transmitir com os vermelhos e os verdes as terríveis paixões humanas”.
As paixões humanas que Van Gogh falava eram outras, mas também estas: paixão pela vida, pela mudança, pelo desconhecido, pelas pessoas. Cores contrastantes, opostas, que combinam perfeitamente com cclima desejado pelo diretor.

Jean-Pierre Jeunet (1997: Alien - A ressurreição, 1995: Ladrão de sonhos, 1991: Delicatessen) não havia gostado do que aconteceu com as luzes e cores de seus filmes anteriores, Delicatessen e Ladrão de Sonhos, por isso, Amélie teve suas cores corrigidas digitalmente em altíssima resolução. O resultado não poderia ser melhor. Cores vivas, que apesar de climatizarem todo o filme, também são personagens, pois marcam precisamente, as emoções, intenções, momentos etc.
Além disso o filme traz o clima, a inspiração, nem que seja indireta, de muitos dos grandes pintores que por alí passaram. Amélie é filmado no bairro de Montmatre, em Paris, por onde perambulavam entre os cafés, bares, ruas, pintores como Vincent van Gogh, Paul Gauguin, Toulouse-Lautrec, Renoir (que está presente no filme, leia mais adiante), escritores como Emile Zola entre tantos outros artistas e escritores. Um ambiente, um bairro que transpita arte.
Amélie não poderia ter outro visual senão este que é apresentado. Abaixo fotos reais do "Café 2 de Moulins" onde se passa o filme (esquerda), da barraca de frutas e abaixo a direita uma foto do bairro de Montmatre.



Além de suas cores e luzes, os enquadramentos, movimentos de câmeras, são um presente para os olhos. O modo como Amélie e muitos outros personagens são mostrados, dão uma sensação de fantasia e ao mesmo tempo proximidade com o espectador. As vezes parecemos estar atrás de uma bola de cristal — a imagem é levemente distorcida, principalmente em closes — observando o futuro das pessoas ser mudado por Amélie. (vem os videos abaixo)

“É impressionante como de repente toda sua vida parece caber numa caixinha desse tamanho!”
Ou numa bola... será que não seria Amélie mudando a vida das pessoas de dentro sua bola de cristal?
E se Amélie mudasse a sua vida?

“Se Amélie preferia viver em seus sonhos e seguir sendo uma garota introvertida, estava em seu direito” mas em 31 de agosto às 4:00 da manhã após achar uma caixinha com diversas lembranças no assoalho de sua casa “Amélie é surpreendida por uma idéia deslumbrante, propõe-se a encontrar o proprietário da caixa de lembranças onde quer que ele estivesse e lhe restituir seu tesouro, e decide que: se ele se comover, dedicará sua vida à ajudar as pessoas, senão... não fará nada.”
Uma das pessoas que Amélie ajuda é um velho pintor, que tem um problema nos ossos que se quebram facilmente e por isso quase nunca sai de casa, passou sua vida falsificando pinturas de Renoir — mais uma vez a referência a arte e aos pintores citados anteriormente — em um destes encontros temos um dos diálogos mais perfeitos do filme:

“ — Essa garota do vaso de água... acho que está distraída porque está pensando em alguém — Referes-te a alguém do quadro? — Não, quem sabe alguém com quem ela cruzou e lhe deu a impressão de que os dois se pareciam. — Ah, ou será que ela prefere imaginar uma relação com alguém ausente ao invés de ter uma com os que estão a seu lado. — Não sei... Quem sabe seja o contrário e ela se decida por arrumar a vida dos demais. — E a dela? De todos as bagunças de sua vida, quem ajudará? — Em minha opinião é melhor dedicar-se aos outros que a um gnomo de jardim.”



E a viagem deste gnomo de jardim é praticamente uma história a parte, um roteiro que valeria um outro filme. Ao ver a história deste gnomo, seu dono e Amélie, pense além do simples boneco, assim como temos que ver além do olhos de Amélie para ver de verdade cada personagens. E assim se desenvolve o filme Amélie ajudando os que a cercam e buscando um amor.

“— Não, idiota. Está apaixonada.
— Mas eu não a conheço.

— Claro que a conheces. Desde desde sempre, em teus sonhos”


Várias são as cenas que merecem atenção especial no filme. Aqui vão algumas:

• Logo que Amélie decide ajudar as pessoas ela começa por um cego. A cena, quase toda em plano seqüencia é bárbara (foi filmada inicialmente em plano seqüencia, ou seja sem cortes), os cortes que entram quebrando a continuidade são precisos, assim como, os movimentos de câmera parecem os movimentos rápidos dos olhos de Amélie, e as sensações do cego, em acompanhar a diversidade de informações visuais que ela transmite. A cena se encerra com um movimento maravilhoso em câmera alta, mostrando como Amélie mudou sua vida. Vale reparar, veja abaixo.



• Uma das minhas favoritas — são tantas — é curta mas espetacular: quando Amélie vai até o Canal San Martin atirar pedras na água. A cena toda em verde, apenas o vestido de Amélie em vermelho tem um movimento de câmera belíssimo, singelo, como se fosse uma extensão do movimento dos braços dela. Você pode ver esta cena, junto com outras também ótimas, no vídeo abaixo. Preste atenção em cada movimento da câmera, sua velocidade, como ela desliza e muda de plano.



• Outras: O momento em que seu abajour e quadros de animais que tem em seu quarto tomam vida e falam. • Em um determinado momento do filme bolas de gude caem ao chão e pulam com suas transparências em preto e branco. Nunca imaginei que bolas de gude dessem uma cena tão bela. • A cena final com Amélie andando de moto com Nino.
Enfim são tantas que se for listar seria o filme inteiro. Segue mais um vídeo com alguns destes momentos.



Essa linguagem de câmera, movimentos, velocidade, direção de arte, fotografia, formam um conjunto perfeito com o roteiro sem furos, leve e ao mesmo tempo intenso e repleto de mensagens, diretas, simbólicas, imagéticas etc... Não podemos esquecer a trilha do filme, também sensacional, você pôde ouvir um pouco em alguns destes videos colocados aqui.

Nada em Amélie é por acaso. Em Amélie devemos olhar além do dedo...

“Quando o dedo aponta para o céu, o imbecil olha para o dedo”

Tudo trabalha em um conjunto para fazer com que Amélie se torne uma antiga conhecida nossa, faz com que compartilhemos de sua vida e nos sentimos cúmplices de sua aventura.



Bem paro por aqui e deixo mais informações, principalmente sobre a função das cores e da idéia gráfica do cartaz do filme em meu blog de arte e design. Para ler é só clicar aqui. E aguardo opiniões, palpites etc... Escrevam para a Vontade de Ver.

“Algumas pessoas se conhecem desde sempre”

2 comentários:

Anônimo disse...

Sua análise do filme vai abrir janelas para muitas pessoas...isso é legal para pessoas que não querem ser apenas espectadoras da própria vida...Amelie luta contra isso de uma forma fantástica e transformadora. Parabéns pela escolha do filme!

Idndico o site do diretor do filme: http://jpjeunetlesite.online.fr

Estou devendo meus textos...eles estão entrando no forno e saem quentinho logo logo :)

Bjos! Okida San!!!

Eduardo Ricci

Anônimo disse...

Se nao me engano, o pintor brasileiro que inspirou o filme foi Israel Dias Machado, não Juarez, como vcs citam...